Embora nascido em Porto Alegre, em 22 de outubro de 1970, imagino que lá pelo dia 24 ou 25 saí do Hospital Moinhos de Vento para a cidade vizinha de Canoas, onde vivi até 2002. Assim, como canoense, minha visão de Porto Alegre era a de quem chegava ao centro da capital de ônibus e, a partir dos anos 80, de Trensurb. E não era uma visão agradável. Porto Alegre, para mim, era aquela bagunça do entorno do Mercado Público: sujeira, água de peixarias escorrendo pelas calçadas, ônibus e pedestres se entreverando na praça XV. Um caos, enfim.
Em 1988, iniciei meu curso de graduação na Faculdade de Agronomia, na UFRGS. Isso, evidentemente, ampliou minha visão de Porto Alegre. Para pior. Porto Alegre tornou-se ainda mais desagradável. Para ir até a Agronomia, ônibus velhos me levavam por uma Avenida Bento Gonçalves com um estranho “canteiro central” de chão batido, com direito a uma baldeação em um terminal ainda mais estranho. Alternativamente, poderia pegar um ônibus arredondado da Carris, provavelmente da década de 1960, que me levava por uma picada que ligava a Protásio com a Ipiranga. Os nativos chamavam aquela picada levemente asfaltada de Avenida Antônio de Carvalho. Vindo pela Ipiranga, a viagem era mais rápida e ainda havia a bela visão da Vila Planetário. E a passagem escolar vinha impressa em um papel picotado, que tinha propaganda do Secretário de Transportes no verso.
Tudo isso mudou, inclusive a nojeira do Mercado Público e de seu entorno. E mudou a partir da eleição de Olívio Dutra, em 1989.
Ao longo das quatro administrações da Frente Popular, a Antônio de Carvalho passou a ser realmente uma avenida, a Bento foi reestruturada, a Vila Planetário foi urbanizada, o Mercado foi reformado, o Largo Glênio Peres substituiu aquele amontoado de ônibus. E os ônibus foram substituídos por modelos novos, até com ar condicionado! Sem falar na Terceira Perimetral, nos Telecentros, naquele condomínio da Princesa Isabel, na Vila Mário Quintana, na Vila Tesourinha... e, certamente, mais coisas que não vi, como canoense.
Porém, como portoalegrense desde 2002, eu vi o marasmo, a estagnação e o descaso da nova administração para com a Cidade. Essa, para mim, é a maior marca dessa administração: o descaso! E os seus sintomas mais nítidos são a sujeira das ruas e os buracos no asfalto. Se Porto Alegre queria, clamava por mudanças (como diziam os marqueteiros do Fogaça), elas vieram. Pelo menos no caso do asfalto, que se mudou de Porto Alegre deixando os buracos no seu lugar!
As charges abaixo foram publicadas em 2005 e, a do “mapeamento”, no inicio de 2006.