É evidente que uma vitória colorada, embora rara, sempre irrita a nós gremistas. Mais ainda quando representa a conquista de um título que apenas nós possuíamos. É como se encontrássemos aquela ex-namorada maravilhosa, da qual tanto nos vangloriávamos, aos beijos com um bagaceiro qualquer vestido de vermelho. Aquela vagabunda! Chinelona! Inveja! Rancor! Despeito! Enfim, sentimentos ruins e infantis, mas compreensíveis.
O que é difícil de se compreender é esse ressentimento, misturado com desprezo pela história do futebol, que tem demonstrado alguns colorados. E justamente nessa hora em que eles atingem a glória máxima de um clube de futebol. É irritante, mas ao mesmo tempo revelador do quanto o nosso título os incomodou ao longo de intermináveis 23 anos.
Essa semana, ouvi muitos colorados dizendo que o
Grêmio ganhou o seu título mundial sobre um timeco desconhecido, o
Hamburgo. Desconhecido, talvez, nos dias de hoje. Mas não em 1983. Para quem não sabe, o Hamburgo era apenas o bicampeão alemão e o campeão europeu. Sim, o Hamburgo teve que ser
campeão europeu, tanto quanto o Barcelona, para ter o direito de disputar o título mundial. Tinha no seu meio-campo Felix Magath, titular da seleção alemã vice-campeã mundial em 1982. E o seu adversário na final da Liga dos Campeões da Europa era a
Juventus de Turin. Não uma Juventus qualquer, mas a poderosa Juventus de Michel Platini, Boniek, e de seis campeões mundiais de 1982, Zoff; Gentile, Scirea, Cabrini, Tardelli; Bettega e Paolo Rossi. Ou seja, a base do time que derrotou a querida seleção de Telê Santana.
Ainda acham pouco? Não estão convencidos? Então imaginem que o Inter tivesse perdido para o Barcelona e o clube catalão tivesse conquistado seu único título mundial. E que daqui a 23 anos, o desconhecido e improvável
Espanyol de Barcelona fosse ao Japão decidir o título mundial contra o poderoso e multi-campeão Boca Juniors (ou o multi-campeão sul-americano de sua preferência). E a zebra Espanyol fizesse uma marcação implacável e vencesse os favoritos por 1x0 em um contra-ataque inesperado. Os torcedores do Espanyol iriam gozar da cara dos rivais e dizer que o Barcelona ganhou de um caco de time, uns ridículos desconhecidos que ninguém sabe quem é. Mas o Espanyol não! O Espanyol teria ganhado de um timaço reconhecido por todos. Talvez, então, algum paciente torcedor do Barcelona explicasse quem era o Inter. Ele diria que o Inter até é um time desconhecido, mas que não chegou a Tóquio por acaso. Derrotou na final da Libertadores ao Campeão Mundial São Paulo, de Rogério Ceni, Júnior, Mineiro e ... sei lá. Danilo? Souza? Fabão? Bem, os são-paulinos não eram exatamente craques, mas eram campeões, sabe como é...
Ou seja, a Juventus campeã italiana de 1981, 1982, 1984 e 1986 e campeã européia e mundial de 1985, era um time muito superior ao São Paulo de 2006, certo? Logo, aquele Hamburgo não era tão pereba assim. Portanto, dizer que o título conquistado pelo Grêmio, que dominou e atacou o Hamburgo o tempo inteiro, é menos importante que o conquistado pelo esforçado Inter, que surpreendeu o Barcelona, é muita pequenez e recalque acumulado! Comemorem o seu título e deixem o nosso em paz!